"[...] expirei às duas horas da tarde de uma sexta-feira do mês de agosto de 1869, na minha bela chácara de Catumbi. Tinha uns sessenta e quatro anos, rijos e prósperos, era solteiro, possuía cerca de trezentos contos e fui acompanhado ao cemitério por onze amigos. Onze amigos! Verdade que chovia - peneirava - uma chuvinha miúda, triste e constante, tão constante e tão triste, [...]" (Machado de Assis, Memórias Póstumas de Brás Cubas, 2010)

domingo, 11 de julho de 2010

Arremesse

"As vidas e as afeições, os afetos, os amores... quanto mais tiverem durado, mais perto estão de deixar de durar". (José Saramago, Língua: Vidas em Português, 2000).


Livre-se da carranca, cara feia, desânimo.
Peso-morto, febre, pessimismo.
Sandálias velhas, podres, correia solta.
Salte o lixo, desamados, mal-amados.

Enfureça-se com o disse-me-disse. Maltrate as idiotices.
Vulgaridade, escárnio, cajestices.
Roupa usada, tempo passado, pretérito perfeito.
Chute o vício, não se esmoreça com quadros bonitos na parede.

Apronte-se! Armadura da verdade.
Fadiga, desesperança, infidelidade.
Arremessa com toda sua força, contra o coração da inveja, a lança sem ponta!