"[...] expirei às duas horas da tarde de uma sexta-feira do mês de agosto de 1869, na minha bela chácara de Catumbi. Tinha uns sessenta e quatro anos, rijos e prósperos, era solteiro, possuía cerca de trezentos contos e fui acompanhado ao cemitério por onze amigos. Onze amigos! Verdade que chovia - peneirava - uma chuvinha miúda, triste e constante, tão constante e tão triste, [...]" (Machado de Assis, Memórias Póstumas de Brás Cubas, 2010)

domingo, 18 de abril de 2010

Ela não vem

Dias sem fim sempre são mais quentes ou mais frios.
Nunca alegres, amenos, suaves.
Inconsolável ronda as janelas espreitando.
Espera e esconde-se do jamais. Não adianta.
Assim vulto, vento que balança sem fúria metros de panos na vertical,
contorce-se de ânsia e dúvida.
Não há mais espaço desconhecido, sala sem apresentação,
brisa nova trazendo visita à sem-graça vida.
A impaciência obriga, carrega e joga sobre o sofá o pálido corpo,
que se estende por meio minuto e põe-se de pé novamente.
Eriçado volta à maratona de curvas e obstáculos instintivamente contornados.
Nada vê.
As horas não passam.
Os ponteiros estão amarrados.
Os vícios pungem...
Luta interna é guerra perdida.
Você perdeu. Ela não vem. Você não aceita. Ela nem sabe.


(Abraão Alves)